*Norwaldo Mello
É notória a importância da cana-de-açúcar no cenário nacional, tanto que a moagem da cana-de-açúcar no Centro Sul do Brasil totalizou 541,57 milhões de toneladas no acumulado da safra 2022/23, de abril a dezembro, em comparação com 522,62 milhões de toneladas registradas em igual período da temporada 2021/22. O desempenho corresponde a um avanço de 3,63% entre os dois períodos, conforme informação da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), em janeiro de 2023.
De acordo com o caderno PDE 2023, a moagem de cana-de-açúcar no Brasil deverá crescer 28,8% até 2032, para 751 milhões de toneladas, enquanto a área plantada aumentará aproximadamente 12% no período, segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgado pelo Ministério de Minas e Energia.
No Brasil, em relação à mineralogia, nossos solos são na grande maioria caulinitas e/ou óxidos de ferro (Fe) e alumínio (Al), com argilas de baixa atividade, elevada acidez, presença de alumínio tóxico às plantas e baixo conteúdo de bases trocáveis (Sá, 2004, citado por Vitti et al, 2010, em Dinâmica de nutrientes no sistema solo-planta-atmosfera). Portanto, a correção dos solos é ponto fundamental e que se caracteriza como um dos alicerces para o sucesso da cultura no país.
A calagem, por exemplo, tem como objetivo aumentar o pH com a correção da acidez através da adição de bases cálcio e magnésio. O calcário é o melhor amigo do fósforo, o que ficou comprovado em trabalho clássico desenvolvido pelo professor José Luiz Ioriatti Demattê na usina Passatempo, em Mato Grosso do Sul, onde as diferentes combinações de doses apresentaram acréscimos de até 31 t/ha de cana.
Já a gessagem visa precipitar o alumínio tóxico, permitindo maior crescimento radicular e, dessa forma, possibilitando maior exploração radicular no perfil do solo. A gessagem promove, ainda, efeito fertilizante através da adição de enxofre e cálcio.
O potencial de aumento na produtividade da calagem na implantação do canavial é de 26%. Para a calagem em soqueira, o potencial de aumento da produtividade é de 20% e, para a gessagem na implantação do canavial, o percentual é de 19%, de acordo com professor Godofredo César Vitti (Nutrição e Adubação de Cana-de-Açúcar, 2017). Portanto, são práticas agronômicas indispensáveis.
Como corretivo principal, temos o calcário agrícola e o gesso agrícola como condicionador de solos. Estes produtos têm características físicas importantes, como teor de umidade e granulometria, além de características químicas, como o teor de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) para o calcário e Ca e S (enxofre) para o gesso. Também podem ser utilizados o silicato de cálcio e magnésio, além de óxidos de cálcio e magnésio.
Em relação ao silicato de cálcio e magnésio, uma característica interessante é que sua aplicação apresenta menor deriva em relação ao calcário comum. Já os óxidos de cálcio e magnésio apresentam maior velocidade de reação, embora não deixem efeito residual.
Durante o 10º Simpósio de Tecnologia de Produção de Cana de Açúcar, em julho de 2022, o professor Rafael Otto demonstrou, quando ainda o cenário era de valores elevados dos insumos agrícolas, que não faz sentido cortar nem reduzir calagem e/ou gessagem em períodos de crise.
Pela plataforma Monitora, da APagri, utilizamos diversas equações de correção para a calagem e gessagem, sempre buscando a melhor solução agronômica. Quando fazemos as recomendações, as diferentes equações para calagem, como o método de saturação de bases, método do Ca e Mg (Copersucar), saturação por Ca ou Mg, por exemplo, e para a gessagem (método Caires e Guimarães, 2018; e Demattê, 1986; Vitti et al., 2008), observamos qual equação melhor atenderá o produtor, além de privilegiar as garantias dos produtos (teores de CaO e MgO), sempre selecionando as maiores doses recomendadas.
É importante ter em mente que precisamos, sempre que possível, usar calcários com MgO superiores a 12%, observando o equilíbrio entre as bases.
O Ubersolo Análises Agrícolas, laboratório da APagri em Minas Gerais, realiza análises de solo e folhas por todo o Brasil, além de analisar insumos agrícolas como calcário e gesso, possibilitando resultados mais assertivos quando usados em parceria na agricultura de precisão.
*O engenheiro agrônomo Norwaldo Mello é consultor agronômico da APagri em Minas Gerais