Compactação do solo: olhar para além das características químicas

Um dos mais importantes fatores da produção agrícola é o solo. Quando discutimos sobre sua fertilidade, muitas vezes falamos diretamente das propriedades químicas e disponibilidade de nutrientes. No entanto, existe um componente que é esquecido ou mesmo se esconde aos olhos de quem faz avaliações visuais: a compactação do solo.

O solo nos dá o suporte para a expressão do potencial genético das plantas, é a base de qualquer sistema de produção e o maior patrimônio dos agricultores. Demanda cuidados específicos e avaliações criteriosas para se manter saudável e produtivo. Suas características são reflexo do material de origem, topografia e efeitos climáticos que atuaram ao longo de vários anos sobre ele.

A compactação do solo é o processo pelo qual, a partir de ações externas, as partículas do solo e agregados sofrem um rearranjo, alterando a forma e tamanho destas partículas. Esse rearranjo resulta na diminuição do espaço poroso e aumento da densidade deste solo (HAMZA, M. A., & ANDERSON, W. K; 2005).

Gestão de fertilidade do solo: melhor produtividade sucroalcooleira

Causas e efeitos da compactação do solo

Cada vez mais, os solos são cultivados com mais intensidade para trazer o maior retorno possível a seus investimentos. Com isso, algumas práticas agronômicas podem trazer um certo desequilíbrio à estrutura. Exemplos dessas práticas são:

  • Necessidade de aumento do rendimento operacional nas lavouras, o que faz com que o produtor use máquinas maiores e mais pesadas;
  • Entrada das máquinas na lavoura em momentos de alta umidade;
  • Operações excessivas ao longo dos cultivos;
  • Ausência ou baixa quantidade de palhada para amortecer os impactos diretos dos maquinários;
  • Monocultivo ou ausência de rotação de culturas e uso de culturas de cobertura, que promovem o bom enraizamento e criam espaços porosos ao longo do perfil do solo;
  • Entrada de animais nas áreas que causam pisoteio, principalmente nos sistemas de integração lavoura-pecuária.

O processo altera uma série de fatores que irão interferir na produtividade final das plantas. Alguns exemplos:

  • Reduz a capacidade de infiltração de água no solo, ou seja, baixo acesso à água pelas raízes das plantas, além de aumentar os processors erosivos na superfície do solo, causando perdas de nutrientes;
  • A resistência à penetração das raízes interfere no seu desenvolvimento e, com isso, no acesso a nutrientes, causando perdas produtivas;
  • Redução na aeração do solo;
  • As plantas com sistema radicular reduzido possuem maior suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças radiculares;
  • Menor capacidade de sobrevivência das plantas em situações de estresse hídrico, devido à falta de sistema radicular profundo que possa sustentar a demanda de água durante os veranicos.

Plantas de cobertura como auxiliares no manejo do solo

Caracterização da compactação do solo

Com o advento da Agricultura de Precisão, podemos entender que a compactação pode ocorrer em profundidades e locais diferentes dentro da lavoura, devido às diferenças químicas e físicas. Solos de textura arenosa são mais suscetíveis à compactação do que os solos de textura argilosa. Sendo assim, é de suma importância entender as três caracterizações da compactação do solo:

  • Localização: quais locais estão compactados ou não? Assim é possível entender e direcionar dentro da fazenda as ações corretivas;
  • Intensidade: qual é o grau de compactação destes locais? Os números podem nos mostrar como devemos atacar esta compactação. Muitas vezes, a simples implementação de culturas de cobertura ou rotação de culturas pode resolver o problema, mas em casos de maior severidade é importante a intervenção mecânica;
  • Profundidade: qual é a camada dentro do meu perfil de solo que está compactada? Isso nos dará um direcionamento de implementos a serem utilizados, como, por exemplo, escarificadores para Compactação do Solo nas camadas mais superficiais ou mesmo o uso de subsoladores para camadas mais profundas de compactação.

Atualmente, podemos utilizar índices de vegetação como o NDVI, a partir de imagens de satélite, como um dos direcionadores da amostragem de compactação do solo. O índice de massa vegetal pode nos informar um subdesenvolvimento da parte da área da planta, o qual possui alta correlação com o desenvolvimento das raízes. Com isso, índices baixos de vegetação dentro do talhão podem ser um reflexo do impedimento do desenvolvimento radicular das plantas.

Em situações em que se procura fazer uma identificação geral do talhão, a alternativa é alocar pontos de amostragem de forma aleatória, buscando sempre uma alta densidade de pontos para melhor caracterização daquela área em questão.

Para a medição contamos no mercado com equipamentos manuais ou automatizados, que fazem a medição da resistência à penetração até os 60cm de profundidade. Podemos citar uma alternativa de custo baixo e que faz o trabalho necessário: o Penetrolog, da empresa Falker, um medidor eletrônico de operação manual. Com ele, as equipes de campo da APagri garantem uma medição da resistência à penetração de forma georreferenciada.

Este mapeamento pode gerar uma interpretação a cada 1cm, ou seja, conseguimos extrair uma informação detalhada da estruturação física do solo e, com isso, a visualização e direcionamento das ações corretivas serão mais assertivas. É importante salientar que estas medições diretas devem ser feitas com a umidade do solo próximo da capacidade de campo.

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Métodos de manejo da compactação do solo

A melhor forma de combater um problema é evitar que ele aconteça. Em se falando de compactação do solo, seguimos a mesma linha, o seu manejo envolve práticas que retardem ou impeçam que ela se estabeleça na propriedade.

O controle de tráfego é uma das práticas que limita a área compactada dentro da propriedade. Consiste no ajuste da bitola das máquinas agrícolas, para que estas andem sempre no mesmo rastro dentro do talhão, mantendo o restante da lavoura livre de compactação e amassamento de plantas.

Outra prática importante é a rotação de culturas ou uso de culturas de cobertura na entressafra ou, ainda, em consórcio com as culturas da safra. Isso garante ao agricultor uma inserção de matéria orgânica no sistema produtivo, que é uma das grandes responsáveis pela estruturação dos solos, além dos benefícios das raízes que criam espaços porosos, aumentando a permeabilidade do solo e melhorando sua qualidade física ao longo do perfil.

O solo é uns dos nossos bens mais preciosos, devemos sempre cuidar e preservar, pois esta será a herança deixada às futuras gerações. O trabalho da APagri baseia-se na melhora contínua da fertilidade, é uma questão fundamental e que pode garantir a sustentabilidade e longevidade dos nossos agricultores.

 

Augusto Sanches
É engenheiro agrônomo e consultor técnico da APagri na região Oeste da Bahia.

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Professor Sênior em Adubos, Adubação e Fertilidade do Solo; aulas na disciplina Adubos e Adubação em graduação e pós-graduação na ESALQ/USP; Especialização e MBA. Sócio-proprietário da Vittagro Engenharia, especializada em consultoria, treinamento e projetos técnico-científicos nas áreas de fertilidade e manejo de solos, práticas corretivas (calagem, gessagem e fosfatagem), práticas conservacionistas (plantas de cobertura, rotação de culturas), fertilizantes minerais, orgânicos, compostagem, adubação e nutrição de plantas. Projetos de pesquisa e assessoria na área de plantio direto na cultura de grãos, cana-de-açúcar, pastagem, café, citros e algodão. Publicou 15 livros em nutrição vegetal, fertilizantes e fertilidade do solo; 27 capítulos de livros; boletins técnicos e participação em mais de 200 eventos de capacitação; palestras no Brasil e exterior (África do Sul, Marrocos, Estados Unidos, Noruega, Bolívia, Uruguai, Argentina, Equador, França, Peru, Chile, Espanha, México, Belize, República Dominicana, China, Turquia, Austrália, Costa Rica, Guatemala, Angola, Canadá, entre outros países). Coordenador nacional e internacional há 30 anos do Programa de Análises de Tecido Vegetal e fundador do Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão (GAPE). Medalha Fernando Costa na modalidade Ensino (2018).

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